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ANÁLISE ECONÔMICA

 

    A Nigéria é um país rico em petróleo e, por isso, durante algum tempo, o petróleo foi a maior parte geradora de receita na economia. Isso gerou uma grande dependência, o petróleo já chegou a fazer parte de 95% do PIB. Para diversificar a economia, a Nigéria passou a aplicar políticas econômicas para estimular o setor privado. Algumas das medidas que vêm sendo tomadas com esse objetivo são: diversificação da base produtiva da economia; ênfase na agricultura e desenvolvimento rural; e contínua privatização de empresas governamentais e utilidades públicas. Como forma de estimular o crescimento, o governo desenvolveu uma estratégia de redução da pobreza conhecida como NEEDS (National Economic Empowerment and Development Strategy). A estratégia tem como reformas estruturais: anti-corrupção, transparência e accountability; reformas do Setor Público; e liberalização e privatização acelerada. Essas políticas já geraram resultados e a Nigéria tem crescido constantemente com um PIB anual em torno de 7%. O país conseguiu diversificar sua economia e pode-se observar que os setores não-petrolíferos contribuíram com 57% do crescimento, enquanto manufaturas e agricultura contribuíram em 9% e 21% respectivamente. A economia está, cada vez mais, se orientando ao setor de serviços. A figura para 2015 é um crescimento moderado de 5%, devido à desaceleração da economia mundial e à volatilidade do preço do petróleo. O baixo preço do petróleo irá levar a um declínio em receitas fiscais. No entanto, o governo tem estimulado os outros setores, assim como controlado os gastos governamentais.

   

   Os desafios enfrentados pela Nigéria são praticamente os mesmos de outros países emergentes. Dentre estes, inclui-se o dilema de geração de empregos, melhoria da educação, redução da desigualdade social e afins. O Brasil tinha quadro semelhante na década passada e a implantação de políticas sociais trouxe muitas mudanças à estrutura social do país, diminuindo a desigualdade, aumentando o nível de qualificação profissional da mão-de-obra e tirando milhões de pessoas da situação de extrema pobreza. Além disso, a desigualdade de gênero diminuiu bastante, principalmente com as melhorias do salário mínimo, que não incluiu perspectiva de gênero, mas beneficiou as mulheres, que são quem mais o recebem. Isso aumentou seu poder econômico e, consequentemente, sua capacidade de decisão. Essas conquistas foram realizadas através de programas de transferência de renda como o Bolsa Família, o maior programa mundial dessa natureza. O Brasil tem feito investimentos expressivos em educação, concentrando aproximadamente 6,5% do PIB nesse setor. Os investimentos têm tomado forma de empréstimos a baixos juros a estudantes, concessão de bolsas nacionais e no exterior e desenvolvimento de cursos técnicos gratuitos. No longo prazo, isso tem expandido a qualificação da mão-de-obra disponível, a renda per capta, e, consequentemente, expandiu os negócios no país no geral.

 

   A insurgência do Boko Haram tem atrapalhado a captação de investimentos para o país, já que esse problema de segurança tem impacto negativo em investimentos e também atrapalha na luta contra a pobreza, além de aumentar o crime. O grupo terrorista pode parecer um problema de segurança e fundamentalmente religioso, mas, na verdade, a emergência do grupo tem muito a ver com a situação econômica. O crescimento econômico constante deveria significar uma melhoria no bem-estar social dos nigerianos, mas isso não ocorreu. Entre 2004 e 2012, o número de pessoas vivendo com menos de um dólar por dia cresceu de 55 a 69% da população. Além disso, a Nigéria é o quinto país com o maior número de analfabetos no mundo. Outro grande problema é a desigualdade de gênero.Isso ocorre porque os gastos do governo com o setor social não seguiram o crescimento econômico. Calcula-se que os gastos com educação sejam em torno de 1% do PIB, sendo que a média dos outros países em desenvolvimento é de 4%. Num discurso em março, a Segurança Nacional Nigeriana identificou a pobreza regional, insegurança e desemprego como as maiores causas do crescimento do Boko Haram. Numa região onde o desemprego é penetrante, a promessa de uma arma e lucro tem incitado centenas de homens jovens. Num relatório recente, o Grupo Internacional de Crises notou que “a maioria dos nigerianos são mais pobres hoje do que foram na independência em 1960, e o governo é incapaz de prover segurança, boas estradas, água, saúde e educação confiável”.

 

   A Nigéria tem se apoiado em atos de força para combater o Boko Haram, o que gerou em mortes civis em massa e aumentou a desconfiança popular com as forças do governo. A estratégia de utilização de força tem se mostrado ineficiente, pois ignora o cerne da questão que compreende, em grande parte, problemas de cunho social. Além da utilização mais precisa da força militar, o governo precisa também adereçar elementos que alimentam o movimento. O país precisa aumentar o investimento em educação e em desenvolvimento no geral, e grande parte desse estímulo deve ser direcionado ao norte do país, onde o Boko Haram atua e onde a educação é menor. O Brasil, portanto, através de sua experiência bem-sucedida de diminuição de desigualdade e pobreza, e expansão da educação, tem muito o que contribuir ao crescimento da Nigéria e, consequentemente, ao combate contra o Boko Haram. Os dois países já têm boas relações de cooperação, tendo esta começado em 1980, inicialmente com a concessão de assistência técnica e econômica pelo Brasil. Ao decorrer dos anos, a cooperação incluiu setores como saúde pública, agricultura e energia. A Nigéria é um grande produtor de petróleo e um dos maiores fornecedores do Brasil. A cooperação técnica ocupa grande parte das relações. A EMBRAPA dá apoio às pesquisas em agricultura, o SEBRAE ajuda aprimorando novos empreendimentos e a FIOCRUZ tem auxiliado bastante na luta contra a AIDS.

   

   A Lei de Say, que expressa que a oferta agregada gera sua própria demanda agregada, é importante para entender como a produtividade do país toma uma parte importante no seu crescimento. Sabendo que a produção e venda de um bem gera renda ao produtor para que este consuma outros bens, temos um estimulador natural de consumo. Por isso, a analogia de que a oferta gera demanda. Se um país produz muito, isso significa grandes oportunidades de emprego, o que aumenta a renda da população no geral e, consequentemente, faz a economia crescer. A Nigéria vem conseguido melhorar sua produtividade através das privatizações e afins, mas ainda necessita de tecnologia para alguns setores, como a agricultura, que tem grande potencial no país. O Brasil é uma das referências de tecnologia relacionada à agricultura, sendo a EMBRAPA uma das maiores empresas do mundo nesse setor. Dessa forma, o Brasil se beneficiaria ao conceder cooperação técnica nesse sentido, ao mesmo tempo que conseguiria um maior mercado para seus produtos, já que a Nigéria possui a maior população da África. Ao mesmo tempo, o neoliberalismo de Keynes também tem seu lugar no equilíbrio da economia. Percebe-se que a falta de investimentos do governo em setores sociais, áreas que o setor privado muitas vezes não alcança, causou muito estresse social. Somente o crescimento proporcionado pelo aumento da produtividade não faz com que a população inteira se beneficie. Muitas vezes, nesses casos, a desigualdade aumenta. Dessa forma, percebemos como necessária a intervenção estatal na criação de políticas de distribuição de renda para combater a extrema pobreza, assim como no investimento em educação e em políticas que diminuam a desigualdade de gênero.

   

   O Brasil, como referência de sucesso em políticas sociais e diminuição da pobreza, tem muito a sugerir ao governo nigeriano. A consultoria dada ao país na criação de projetos sociais seria muito benéfica a ambos países. No caso da Nigéria, a adoção dessas políticas estaria adereçando diretamente fatores que alimentam o Boko Haram. Muitas pessoas que se juntam ao grupo são jovens que não têm perspectivas de vida por falta de educação. É fácil ser influenciado se não se tem senso crítico para as coisas e esse senso é adquirido através da educação. Além disso, a educação propicia um horizonte de vida, um propósito, coisa que muitos desses jovens não têm e acabam encontrando no Boko Haram. Educar pessoas e dar a elas oportunidades diminuiria a capacidade do grupo de captar recrutas, além de também prevenir a insurgência de outros grupos do tipo.

 

   Sabendo que a Nigéria é um país em desenvolvimento e dada a sua importância no continente africano, o Brasil teria muito a ganhar. A África tem muitas oportunidades como continente, tanto para exploração de minerais e recursos naturais, como na condição de mercado consumidor para os produtos globais. Empresas nacionais que queiram se expandir encontram grandes oportunidades na África, já que ainda falta muito a se desenvolver por lá. A Nigéria ocupa uma posição de liderança com relação ao restante da África, tendo participação expressiva na União Africana. Assim, uma aliança com a Nigéria significaria não apenas oportunidades na Nigéria, mas em todo o continente africano. As empresas brasileiras só têm a se beneficiar.

 

 

REFERÊNCIAS

 

http://www.africaneconomicoutlook.org/en/country-notes/west-africa/nigeria/

http://www.reuters.com/article/2015/09/04/us-nigeria-politics-idUSKCN0R41O620150904#iuEuWsDL7EPcMKJF.97

http://www.theoilandgasyear.com/content/uploads/2015/07/TOGY_Nigeria-2015.pdf

http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Livros/politicas_desenvolvimento.pdf

https://openknowledge.worldbank.org/bitstream/handle/10986/16568/776840WP0Niger0Box0342041B00PUBLIC0.pdf?sequence=1

http://www.ipsnoticias.net/portuguese/2015/05/ultimas-noticias/politicas-sociais-latino-americanas-deram-impulso-as-mulheres/

http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2015/04/1612236-gasto-publico-em-ensino-atinge-66-do-pib-mas-crise-ameaca-expansao.shtml

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